Atividade física pode causar varizes?

Existe a percepção de que, ao começarmos a praticar atividades físicas mais intensas, as veias das pernas se tornam mais aparentes. Algumas pessoas chegam a interromper os treinos por medo de desenvolverem varizes. Por outro lado, sabemos que a atividade física traz benefícios ao sistema venoso.
Recentemente, um ultramaratonista me enviou um ultrassom Doppler que mostrava pequenas alterações na veia safena interna — um segmento com refluxo, mas sem dilatação significativa. Seus sintomas incluíam sensação de peso nas pernas após treinos longos.
Ele perguntou se isso afetaria sua performance e se a cirurgia seria o melhor caminho. Afinal, qual é a relação entre atividade física e o surgimento de varizes?
Vamos checar a ciência
Um estudo recente, publicado em 2023 — o VARISPORT — investigou a associação entre alterações venosas e níveis elevados de atividade física. Foram avaliados 238 participantes, divididos entre um grupo de atividade física intensa (mais de 8h por semana há pelo menos 6 meses) e um grupo controle pareado por idade, sexo e IMC.
Os pesquisadores usaram a classificação CEAP (Clinical, Etiological, Anatomical, Pathophysiological) e o score de Carpentier para sintomas. Além disso, realizaram exames de ultrassom Doppler para analisar calibre e refluxo venoso.
Os resultados mostraram que, no grupo de alta intensidade, as veias estavam mais dilatadas, com maior prevalência de refluxo. Também havia mais casos de varizes visíveis (CEAP 2). Curiosamente, isso não se traduziu em mais sintomas ou desconforto.
Conclusão dos autores
“O estudo VARISPORT relatou um aumento no calibre das veias dos membros inferiores, sem impacto no desconforto funcional. São necessários mais estudos para determinar se essas veias atléticas representam uma patologia ou apenas uma adaptação fisiológica.”
Entendendo melhor o desenho do estudo
Trata-se de um estudo transversal, que compara dois grupos em um ponto no tempo. Embora não permita estabelecer causa e efeito, é útil para avaliar prevalência e associações. O número de participantes (119 por grupo) dá força aos achados.
O estudo seguiu as diretrizes STROBE e foi registrado no ClinicalTrials.gov (NCT02846051), o que reforça sua credibilidade.
Agora, os resultados
O grupo de atletas apresentou maior frequência de refluxo na veia safena magna (20/218 vs. 5/233, p = 0,030) e também em outras veias superficiais (41/197 vs. 13/225, p < 0,001). Nenhum participante apresentou refluxo em veias profundas.
A frequência de varizes visíveis (CEAP 2) também foi maior entre os atletas.
Limitações do estudo
O estudo não avaliou hipertensão venosa distal nem características histopatológicas. Além disso, não houve mascaramento, e a composição do grupo controle pode influenciar os resultados.
Conclusão
A atividade física continua sendo benéfica para a saúde vascular. Em níveis intensos, pode haver adaptações com maior visibilidade das veias — o que não significa doença.
No caso do meu paciente ultramaratonista, optei por iniciar com medidas conservadoras, como compressão elástica. Caso necessário, avaliaremos mais profundamente com estudos fisiológicos.